por Diego Miguel¹ e Daniela Nascimento Augusto²
O envelhecimento populacional é uma realidade mundial. Nos países em desenvolvimento, a transição se efetuou de forma acelerada, levando cerca da metade do tempo, comparando com o processo de envelhecimento populacional ocorrido nos países desenvolvidos, para provocar mudanças no paradigma social. É o que se observa no Brasil, nos últimos 50 anos em que houve um aumento expressivo da população acima de 60 anos.
O aumento populacional e o fenômeno da transição demográfica estão associados à redução da mortalidade com a obtenção de melhores condições de higiene, saúde, nutrição e trabalho da população, além de avanços tecnológicos e descobertas médicas, levando com isso o aumento da expectativa de vida.
Existe ainda um paradigma sobre o envelhecimento que vem sendo desconstruído aos poucos de que a velhice necessariamente estaria ligada a patologias ou perdas em seu contexto mais amplo, mas sabe-se que hoje é possível pensar nesse processo favorecendo um envelhecimento saudável e mantendo a capacidade funcional dos idosos.
A Gerontologia se faz necessária para estudar o envelhecimento humano e trazer questões relevantes sobre o fenômeno do envelhecimento sobre o prisma biopsicossocial, levando a uma velhice bem sucedida.
Um dos grandes desafios é viabilizar na sociedade que o idoso seja consciente do papel de cidadão que desenvolve, dos seus direitos e deveres conhecendo e interagindo com as Políticas Públicas voltadas para a pessoa idosa.
Hoje, os idosos têm a possibilidade em sua maioria de ser protagonista de sua própria vida, participando de movimentos sociais, formando redes de suporte e muitas vezes sendo arrimo de família desempenhando vários papéis intergeracionais.
A construção social das gerações se concretiza através do estabelecimento de valores morais e expectativas de conduta para cada geração, em diferentes etapas da história.
Com a industrialização deu-se a diminuição na concentração de várias gerações ocupando o mesmo espaço físico como ocorria na sociedade baseada na agricultura, a composição típica contemporânea é a família nuclear.
Segundo pesquisa realizada no SESC São Paulo por José Carlos Ferrigno, 2003 o processo de convivência intergeracional produz benefício para todos os participantes, benefícios que traduzem no desenvolvimento da compreensão, do conhecimento e do afeto mútuos.
O autor salienta ainda que esse processo é decisivo contra a segregação das faixas de idade, segregação que empobrece as relações sociais e que provoca o preconceito etário em suas várias direções, dos idosos em relação aos jovens e destes em relação aos idosos.
Considerando a importância de ações que favorecem as relações entre as gerações e para que exista uma maior proximidade das diferentes realidades etárias, culturais e visando o fortalecimento da rede de suporte social do idoso, o Núcleo de Convivência de Idosos Jova Rural desenvolveu uma programação diferenciada no mês de outubro – mês que comemoramos o Dia Internacional do Idoso, com atividades intergeracionais como proposta de estimular estas relações e reflexões na comunidade.
A Oficina de Ikebana em parceria com a Fundação Mokiti Okada contemplou aproximadamente cinqüenta pessoas com uma vivência diferenciada, através da tradicional arte japonesa para composição de vasos com flores naturais por meio das noções estéticas e do conceito de belo.
Participaram desta oficina crianças, adolescentes, adultos e idosos. Todos interagiram diante das dificuldades para montar os suportes das flores ou na montagem dos próprios arranjos, preocupando-se sempre com o desempenho dos companheiros e criando meios de ajudá-los.
Fazendo uma analogia em nosso dia a dia poderíamos pensar mais em “fazer juntos”, minimizando as dificuldades e potencializando os ganhos em sociedade.
Muitas vezes criamos um distanciamento por simples diferenças etárias, com preconceitos ou idéias pré concebidas que não permitem que nos aproximemos das pessoas que talvez estejam próximas e tenham muito a nos acrescentar, o que ficou muito claro durante essa atividade realizada no serviço.
Assim como esta vivência aconteceram também as oficinas de Biojóias e Auto Maquiagem, ambas em parceria com o Centro de Referência da Mulher.
A Oficina de Biojóias teve o objetivo de contribuir com a geração de renda. Também aberta à comunidade, contou com a participação de quarenta mulheres de faixas etárias variadas, vale ressaltar a notória participação das idosas.
Como a Oficina de Biojóias tem o foco da geração de renda, despertou o interesse deste público específico, para que este se torne multiplicador da técnica em sua família.
A Oficina de Auto Maquiagem foi uma das atividades de maior procura em nossa comunidade, essa atividade além de proporcionar noções de maquiagens ideais para cada momento, também abordou os principais cuidados estéticos com a pele o que demonstra a importância da auto-estima para as idosas.
A proposta de um grupo intergeracional nessa atividade foi levar a reflexão sobre alguns mitos do envelhecimento em que a pessoa com certa idade deve ser desleixada ou mesmo assexuada, atividade que favoreceu demonstrar que cada fase da vida pode ter seu brilho e sua beleza própria.
O NCI Jova Rural, enquanto um serviço incluído nas Políticas Públicas que tem como objetivo desenvolver ações que preconizam o envelhecimento saudável tem a responsabilidade de trabalhar com a difusão destes conhecimentos para todas as fases da vida, para que este idoso inserido em nosso serviço, possa também sentir-se integrado em uma comunidade sem preconceitos ou limites.
¹Artista Plástico, especializando em Arte Educação e Gerontologia (CEUMA/USP), coordenador do Núcleo de Convivência para Idosos Jova Rural (NCI Jova Rural).
² Terapeuta Ocupacional especialista em Gerontologia (UNIFESP/EPM), coordenadora da Incubadora Social – Centro de Referência da Cidadania do Idoso (CRECI@).
- OFICINA DE IKEBANA - out/2009
NÚCLEO DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS JOVA RURAL
R: Roberto Lanari, 998 – Jova Rural/ Jaçanã
Fone: 11-2249-5595
Dias: 2ª a 6ª feira
Horário: 8h às 17h
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